Por Hugo Monteiro
Grandes quantidades de nitrogênio (N) são trazidas para os sistemas de produção de carne, principalmente para os confinamentos, como alimentos comprados. Para prevenir a poluição ambiental e melhorar a eficiência de uso, um plano de manejo de nutrientes deve ser desenvolvido para que se possa determinar o movimento e a quantidade de nutrientes entrando, saindo e permanecendo no sistema. A preocupação ambiental com o N se deve às perdas por volatilização como amônia e também ao seu potencial de contaminação da água de superfície e do subsolo pelo nitrato.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007) a concentração atmosférica de óxido nitroso tem se elevado desde o início da era industrial e em 2005 estava cerca de 19% maior do que em 1750. Além do papel no aquecimento global (gás com maior potencial de efeito estufa), o N2O também está envolvido na redução da camada de ozônio, a qual protege a biosfera de efeitos perigosos da radiação ultravioleta. Sabe-se que a eficiência de assimilação do nitrogênio pelos animais domésticos é baixa (14% contra cerca de 50% para as culturas vegetais), com isso ocorre uma elevada produção de resíduos nitrogenados excretados. Algumas causas dessa baixa assimilação podem ser devidas a problemas de naturezas muito distintas como: em sistemas de pastejo pela baixa qualidade da alimentação em climas semi-áridos ou ainda em sistemas intensivos pelas dietas excessivamente ricas em nitrogênio.
De acordo com o IPCC (1996), a retenção de nitrogênio (medida de eficiência que consiste na relação entre o N presente nos produtos finais e o N ingerido) nos produtos de origem animal é, geralmente, apenas de 5% a 20% do total de N ingerido. Mas, em vacas leiterias cerca de 20-30% do N consumido participa na produção de leite e carne e o restante é excretado. No esterco, o N está presente principalmente na forma de amônia ou de N orgânico. Este N é oriundo de alimentos não digeridos no trato digestivo, proteína microbiana, N endógeno, uréia e também N amoniacal excretado na urina.
Cerca de 40% a 50% do total de N presente no esterco corresponde ao N amoniacal excretado na urina. A uréia é rapidamente convertida em amônia na presença de urease. Num ambiente ácido, a amônia (NH3) reage com o H+ para formar o íon não gasoso amônio (NH4+), cuja reação previne a perda de NH3 para a atmosfera. Entretanto, a maioria dos dejetos de bovinos fornece quantidade insuficiente de ácido para converter NH3 para NH4+ e isso libera grandes quantidades de NH3 para a atmosfera. A NH3 é atribuída uma grande contribuição para a chuva ácida.
No entanto, nem todo nitrogênio excretado pode ser considerado como resíduo, ou seja, quando usado como fertilizante nas pastagens ou nas lavouras, certa quantidade de N reativo entra novamente no ciclo de produção. A digestão anaeróbica, através da produção de biogás, contanto que este seja utilizado e não dispensado é uma forma de se reduzir as emissões de óxido nitroso (N2O) e metano (CH4).
Nos bovinos as perdas de nitrogênio ocorrem em vários locais do corpo do animal, tais como:
- As perdas ruminais resultam principalmente da falta de sincronia entre a taxa na qual os carboidratos e as proteínas são degradados no rúmen durante o processo de síntese de proteína microbiana. Apesar de a proteína verdadeira microbiana apresentar uma composição de aminoácidos superior à da maioria dos alimentos, cerca de 15% a 20% desta é composta por ácidos nucléicos, os quais não são disponíveis para o metabolismo. As perdas ruminais ocorrem na forma de NH3, que após conversão em uréia, no fígado, é excretada na urina;
- O segundo importante local de perdas de N é o intestino delgado, onde a proteína endógena é excretada em enzimas digestivas, bile, células epiteliais descamadas e muco. As causas de aumento nas perdas endógenas dos ruminantes estão relacionadas à entrada de proteína e passagem de fibra no intestino delgado ou infecção por parasitas.
- O terceiro importante grupo de perdas de N são as perdas pós-absorção, principalmente devido a menor disponibilidade de energia ou aminoácidos nos tecidos. A natureza e a fonte dessas perdas não são claras, mas o fígado e a glândula mamária normalmente são os responsáveis. O fígado dos bovinos constitui menos que 5% do peso total do corpo, mas é responsável por aproximadamente 12% a 25% de todo consumo de oxigênio e gasto de energia do corpo, e os aminoácidos parecem ser importantes substratos. A eficiência de utilização dos aminoácidos absorvidos a partir do sangue pela glândula mamária é alta, e para a maioria dos aminoácidos essenciais é maior que 90% do que é extraído do sangue e excretado no leite.
O peso corporal e a taxa de deposição de proteína são os principais fatores que indicam as exigências de proteína. Porém, essas exigências modificam-se ao longo do período de alimentação dos bovinos, com a aproximação da maturidade fisiológica.
Práticas de alimentação, considerando-se os mesmos níveis nutricionais do início ao final do confinamento, são recomendações técnicas muito comuns, mas mudanças nas formulações das dietas para adequar as necessidades de proteína à exigência dos animais e minimizar as excreções são práticas que devem ser adotadas. O mais recomendado é que se faça um ajuste na porcentagem de proteína da ração, diminuindo os níveis de proteína da ração com a aproximação da maturidade.
Por isso, a redução das emissões de N2O pelos sistemas de produção de bovinos pode ser conseguida principalmente pelo controle da excreção de nitrogênio por meio da adequação dieta e pela melhoria da produtividade por animal, possibilitando uma redução do número de animais na criação com melhores índices zootécnicos.