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Dietas aniônicas reduzem a incidência de febre do leite

O período de transição que compreende as últimas 3 semanas de gestação e as 3 primeiras semanas após o parto é fundamental para a saúde da vaca e para a produção de leite. O início da lactação aumenta significativamente a exigência de cálcio pela vaca, e nos primeiros dias pode atingir até dez vezes mais que a quantidade de cálcio na circulação sanguínea. Em função disso, as vacas em início de lactação lançam mão de mecanismos fisiológicos para aumentar a absorção de cálcio da dieta, aumentar a mobilização de cálcio do osso, e reduzir a excreção urinária de cálcio, mas, no entanto, ainda não conseguem todo o cálcio que necessitam. Em decorrência disso, aparece um dos problemas mais comuns e sérios para quem trabalha com vacas de alta produção, a hipocalcemia (febre do leite).

No período seco, principalmente no último mês de gestação, há necessidade de ajustes e alterações no manejo nutricional, com a adoção de uma alimentação mais liberal, e a introdução de rações de vacas em lactação, sem se esquecer da importância da fibra longa na dieta. Os objetivos dos ajustes na alimentação neste período são para manter a vaca com boa condição corporal ao parto (ECC ‘é igual a’ 3,50 – 3,75), em boas condições de saúde e com bom apetite. Se a vaca não se adapta à nova situação os níveis de cálcio do sangue, após o parto, cairão para níveis críticos, com o aparecimento da hipocalcemia.

Os sinais clínicos da hipocalcemia são incapacidade para levantar, fraqueza muscular, recumbência, temperatura abaixo do normal, falta de coordenação. Vários outros problemas podem ocorrer devido à febre do leite, e entre estes estão, dificuldade de parição pela fraqueza muscular, aumento das chances de apresentar prolapso uterino, tendência em aumentar os casos de retenção de placenta, aumento das possibilidades de metrites, queda no desempenho reprodutivo, aumento dos casos de atonia ruminal e timpanismo, casos de deslocamento de abomaso, maior risco de cetose, maiores riscos de mastite e queda na produção de leite.

O período crítico mais importante para correção dos desajustes no balanço de cálcio, e que causam os problemas metabólicos, ocorre um mês antes do parto. A medida mais tradicional é limitar a ingestão de cálcio antes do parto, o que não é muito simples porque a maior parte dos alimentos utilizados no preparo das dietas pré-parto contém níveis altos de cálcio. No entanto, nos últimos anos surgiu uma técnica que tem sido muito efetiva, o monitoramento do balanço cátion-ânion da dieta, e que tem recebido muita atenção dos nutricionistas.

Esta é uma ferramenta de manejo alimentar importante para a redução dos casos de febre do leite em vacas de alta produção, bem como para melhorar a saúde e a produção da vaca. Quando adotamos o uso de dietas aniônicas os níveis de cálcio devem ser de 0,5 e 1,5% da matéria seca da dieta total, no entanto, níveis de cálcio acima de 1% na dieta podem reduzir a ingestão de matéria seca, que neste período já é baixa. Assim, uma opção razoável é manter os níveis de cálcio próximos de 1% na matéria seca da dieta; evitar excessos de fósforo na dieta e manter a ingestão deste elemento entre 40 e 50 gramas por dia; manter o nível de magnésio entre 0,35 e 0,40% na matéria seca no sentido de prevenir a queda na concentração sanguínea de magnésio após o parto, e limitar a concentração de enxofre em 0,4%.

Sais aniônicos devem ser utilizados apenas pelo período de 3 semanas antes do parto. Pelo fato de que dietas com sais aniônicos estimulam a perda de Ca pelos ossos, eles não devem ser utilizados durante todo o período seco.

Como calcular o balanço cátion/ânion da dieta (BCAD)?

O BCAD é a diferença, em miliequivalentes (meq.), entre os principais cátions e ânions da dieta. Para calcular o BCAD precisamos conhecer as concentrações de sódio, potássio, cloro e enxofre da dieta, e a seguir utilizamos a equação.

Balanço Cátion/Ânion = meq. (Na + K) – meq. (Cl + S)

Ânions, como o Cl e o S são acidogênicos. Dietas acidogênicas tendem a prevenir a hipocalcemia e a febre do leite, pois produzem acidose metabólica, que facilita a reabsorção óssea e a absorção intestinal de cálcio. Uma dieta negativamente balanceada favorece a nutrição da vaca no período seco (pré-parto) e a redução dos casos de febre do leite. No entanto, dietas excessivamente aniônicas deprimem o apetite e podem determinar o surgimento da doença do fígado gordo após o parto.

O uso de sais aniônicos é mais eficiente em dietas completas. O uso de sulfatos influenciam menos o consumo de matéria seca que o uso de cloretos, que são menos aceitáveis pelos animais. Cátions, como o Na e o K são alcalogênicos. A alcalose é um importante fator na etiologia da febre do leite, e portanto, é fundamental prevenir a alcalose metabólica. A razão pela qual o fato ocorre é por causa da alta concentração de cátions na dieta, principalmente potássio. Uma dieta positivamente balanceada favorece vacas em produção e com altos níveis de produção de leite.

Para produzir um balanço negativo no período seco normalmente é necessário um consumo de 150-200 gramas de sais aniônicos, o que produzirá uma dieta com aproximadamente -70 meq/kg de MS. Ao adotar o uso de sais aniônicos é fundamental monitorar o pH da urina, principalmente na última semana antes do parto, prática muito efetiva para avaliar a eficiência do uso da técnica. Em vacas holandesas, a utilização eficiente de sais aniônicas baixa o pH da urina para valores entre 6,2 e 6,8.

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